
Foto: Divulgação / Programa Intera
Desta vez, o colunista do Portal Pereira News abordou sobre a realidade nua e crua que se caminha o campo da esquerda hoje no município alagoinhense
As entrevistas concedidas por Jacilena Almeida, filiada ao PSOL, e Ednaldo Sacramento, candidato a prefeito pelo PSTU, ao programa/podcast Intera do comunicador Rayner, nesta semana, mostram duas pessoas, dois militantes políticos de esquerda, procurando resgatar ou retomar os fundamentos que guiavam este segmento nos anos 80. Ednaldo estava acompanhado de sua candidata a vice-prefeita, a professora Arleide Farias.
Jacilena falou claramente sobre a devastação e a desagregação protagonizadas pelo PT sobre a sociedade civil organizada, que esvaziaram o debate público, tão importante para a condução deste ideário e para a renovação de suas lideranças. Ela reclama que não há mais bandeira ideológica, que todo mundo procura se esconder, mudar até as cores e as marcas do partido em campanha e abandonar a oportunidade de candidatura própria por considerar que não haveria chances de vitória em Alagoinhas. Para a professora, é difícil ver Radiovaldo Costa elogiando Luiz Argolo, exemplifica.
Para representar aqueles que ainda acreditam que os princípios e as boas práticas da esquerda não podem ser deixados de lado por uma postura pragmática, Ednaldo Sacramento se coloca como opção nestas eleições. Vai enfrentar a dificuldade do voto útil, mas certamente abrirá um espaço para ideias e projetos mais coletivistas e para um pensar holístico.
Ednaldo pensa em acabar com a terceirização do serviço público. As áreas de coleta e deposição dos resíduos sólidos, de transporte público, de iluminação pública, a conservação das ruas e estradas, e o asfaltamento de trechos menores, tudo isso será executado por empresas municipais vinculadas à Prefeitura e por cooperativas. Haverá uma grande criação de empregos com isso, e espera-se uma capacidade de realização bem maior devido à redução de custos. Jacilena pensa na mesma linha e complementa, afirmando que é necessário voltar o foco para o associativismo e o cooperativismo.
É onde esta ideia começa a se inviabilizar. É um plano perfeito que só se realizaria em uma sociedade perfeita ou, pelo menos, mais evoluída moralmente e intelectualmente. Por quê? O estatismo só terá êxito em um ambiente sem corrupção. Imagine-se que se consiga isso com um governo tocado pelo PSTU, tudo seja estatizado em oito anos e, depois, se o partido perder as eleições e entrar um esquerdista ou mesmo um direitista corrupto? Tudo se converterá em uma gigantesca máquina de desvio do dinheiro público, que daí em diante se perpetuará no poder. Não seria este o modelo praticado no capitalismo de estado? Ora, capitalismo de estado não é socialismo, entende a armadilha?
A união do PT com Joaquim Neto foi bastante criticada por Jacilena. Se Joaquim Neto é pessimamente avaliado, com várias falhas como na saúde, onde as condições de hoje são as mesmas de há cinco anos. O fato de o PT precisar se aliar a ele é sinal de que este conduziu a esquerda para a desagregação extrema.
A professora reafirma o vazio do debate público, considerando que a campanha política virou apenas uma sequência de caminhadas barulhentas que incomodam os trabalhadores necessitados de descanso e nada acrescentam à maturidade e ao aprofundamento do pensar a cidade por parte da população. Esta fica assim sem base para a reflexão indispensável ao desenvolvimento. Algo que se espera e se propala nas falas desarticuladas e sem substância. Ednaldo também se junta a Jacilena na avaliação negativa do prefeito, que asfalta ruas e não se preocupa com a drenagem e o esgotamento sanitário.
Fala-se em 43% de cobertura de esgoto, mas sem destinação adequada, ainda se misturando às águas da chuva. Sacramento se preocupa com a revitalização da Fonte dos Padres, da Lagoa da Feiticeira e do Riacho do Mel. Jacilena reclama do descaso também com o meio ambiente, sem árvores plantadas e sem investimento na criação de parques ecológicos.
Ednaldo Sacramento pretende unificar as secretarias de educação e de cultura, o que daria amparo para o projeto de implantação da escola em tempo integral e a retomada das creches, escanteadas pelo Governo Federal, recebendo aporte de recursos insuficiente nos últimos 24 anos. Sacramento afirma que a nota do Ideb subiu 4 pontos de 2017 para cá, mas está longe de cidades do Ceará que recebem notas acima de 8 pontos. Figura muito abaixo de Mata de São João (6,7) e ainda perde para Catu (5,3) e Pojuca (5,9).
Jacilena percebe a necessidade de uma educação política nas escolas, que pode virar mera doutrinação nos governos de esquerda, sobretudo da esquerda corrupta. Ela acredita que o retorno ao nível de politização que se tinha em Alagoinhas necessita de uma vida cultural intensa; a cidade regrediu neste aspecto. Outro fator que depõe contra a crítica política é a imprensa venal. Houve os Jogos Paraolímpicos, mas ninguém aproveitou o momento para discutir as necessidades das pessoas com deficiência, lembra.
Ednaldo Sacramento defende uma reforma administrativa para reduzir ao máximo os cargos comissionados. Na saúde, ele acredita que a situação crítica de anos só será revertida com a contratação de médicos com dedicação exclusiva e não vê por que não existir uma cobertura de 100% do município pelo PSF. Jacilena pensa no esporte abarcando todas as modalidades e todos os bairros, com equipe multidisciplinar formada por nutricionista, psicólogo e professor de educação física. Ednaldo entende que é insuficiente a quantidade de psicólogos no CAPS. Lá, de fato, o tratamento é mais medicamentoso, as filas são grandes e o espaço não tem nenhum atrativo ou conforto. Muito mais eles falaram; aqui é só uma mostra do, digamos, principal. Evidencia, contudo, que pensar uma cidade envolve, sobretudo, uma mudança de cultura-mentalidade e a valorização humana, algo que está muito além de jogar o pretinho no chão.
Por: Paulo Dias – Jornalista, Mestre em Crítica Cultural e colunista no Portal Pereira News